terça-feira, 19 de abril de 2016

Pesquisa revela precariedade do trabalho em arrozeiras (Fonte: MPT)

"Porto Alegre – O Ministério Público do Trabalho (MPT) em Pelotas, em parceria com sindicatos de trabalhadores da alimentação, promoveu, no dia 14 de abril, o seminário "Saúde do Trabalhador nas arrozeiras". No evento, foram divulgados os resultados da pesquisa Diagnóstico sobre as Condições de Trabalho nos Engenhos de Arroz (Diga), feita em seis municípios da região Sul do estado, que concentra a maior parte da produção do arroz do Rio Grande do Sul. O perfil dos entrevistados pela pesquisa foi majoritariamente de homens (93%), que trabalham no turno diurno (81,9%), com idade média entre 35 e 45 anos (58,3%), com mais de cinco anos de empresa (58,3%), fazendo 2 horas extras por dia (50,9%).

As maiores reclamações quanto ao meio ambiente de trabalho foram em relação à poeira (91%) e barulho (90%), seguidos de risco de quedas (76,7%), desconforto térmico (75%), agrotóxicos (46,7%) e pesticidas (40,8%). Além disso, uma das características mais penosas do trabalho, o carregamento de cargas acima de 50 kg, é considerado normal pelos entrevistados. A quantidade carregada diariamente pode chegar a 100 toneladas por pessoa por dia. As áreas do corpo que concentram as dores são costas, joelhos e pescoço.

O responsável pela pesquisa é o professor, sociólogo e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS) Paulo Albuquerque. Ao apresentar o relatório da pesquisa, o professor lembrou que as condições captadas pela pesquisa refletem uma realidade já conhecida pelos sindicatos e pelos trabalhadores e técnicos de segurança do trabalho.

Relevância – “Pelas fotos apresentadas pelo sindicato, observei 14 normas regulamentadoras de saúde e segurança de trabalho violadas”, disse o procurador do Trabalho Ricardo Garcia. Além disso, ele avalia a realização da pesquisa como um avanço importante. “Um indicativo de um ambiente opressor são empregados que não falam, impedindo que ele se reconheça e tenha visão crítica sobre sua própria condição. O fato de esse estudo só poder existir agora reflete a falta de condições que tinham o sindicato, a academia e o Estado para agirem e conhecer esta realidade”, afirmou.

Já a procuradora do Trabalho Rubia Vanessa Canabarro lembrou da alta incidência de leptospirose neste setor. Também foi levantada na discussão a possibilidade de realização de um levantamento epidemiológico nos serviços de saúde dos sindicatos de empregados e os detalhes iniciais de uma força-tarefa multidisciplinar, tomando como base a já existente no setor de frigoríficos, também envolvendo os sindicatos da indústria da alimentação.

De acordo com a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (Cnta Afins), o setor do arroz foi escolhido para a pesquisa por apresentar o maior número de acidentes com mortes em relação aos outros segmentos da alimentação. Os empregados das arrozeiras são os que mais procuram os sindicatos apresentando doenças ocupacionais, como lesão por esforço repetitivo (LER) e surdez.

Organização – O evento foi uma realização do MPT-RS em parceria com a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA Afins) e os Sindicatos dos Trabalhadores na Indústria de Alimentação (Stias) dos municípios de Pelotas, de Camaquã e de Bagé.

Além dos procuradores Ricardo Garcia e Rubia Vanessa Carvalho, participaram do evento o procurador Alexandre Marin Ragagnin e representantes da Superintendência Regional do Trabalho (SRTE), do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS) e do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest).

Um novo seminário, em 19 de maio, deve acontecer em Alegrete, organizado em parceria com os sindicatos de São Gabriel e Dom Pedrito, as outras três localidades em que foi realizada a pesquisa."

Íntegra: MPT

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